12.12.06

003 as mãos segundo caravaggio, 1

Pormenor das mãos de A virgem do rosário (1607), Caravaggio

A expressividade das mãos de Caravaggio!

Independentemente do motivo da obra, elas merecem sempre uma atenção especial do pintor. Nunca se ficam pelo esboço e raramente são ocultadas na sombra. O resultado é sempre de um requinte e sensibilidade surpreendentes. E mesmo quando não são perfeitas - ele procurou, antes de mais, como é sabido, a imperfeição -, nunca chegam a ser grosseiras. Porque as mãos, para Caravaggio, têm algo a dizer - e o que dizem é essencial.

No que a mãos diz respeito, Caravaggio é, portanto, um expressionista avant la lettre. Em geral, elas, mais do que qualquer outra parte do corpo, contêm a súmula da expressão das figuras retratadas. Seja um sentimento violento ou a serenidade do sono, está lá quase tudo. E esta concentração emocional é tão moderna que antecipa as mãos crispadas de Schille, as mãos deformadas de Picasso, e talvez todas as mãos que, posteriormente, se fizeram linguagem e comunicação em pintura.